quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Cerca do Passe


1. Magnetismo e Espiritismo são a mesma coisa? 

R - Já possuímos matéria suficiente para sustentarmos estar em equívoco aquele que afirmar sejam o magnetismo e o Espiritismo a mesma coisa, pois, da última colocação kardequiana se depreende que o primeiro, como ciência, participa da Ciência Espírita e não que esta esteja contida nos estreitos limites daquela outra. Não são a mesma coisa, afirmamos; nem por definição, nem por meios, nem por objetivos; apenas o magnetismo, com suas técnicas e experiências, viabilizou, no meio científico da época, o reconhecimento da existência de outras forças, energias, fluidos, que desaguaram, via sonambulismo, nas provas da existência do Espírito.
Mas, para que não haja dúvidas, eis a primeira definição de Allan Kardec sobre o Espiritismo: A doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas”. Vemos que dessa definição não há como igualar tal Ciência - que é também Filosofia e Religião - ao magnetismo, cujos seguidores são chamados de magnetizadores.
Há, entretanto, estreitas ligações entre as duas ciências. E quem faz uma notável ligação entre o Espiritismo e o Magnetismo é o Espírito E. Quinemant que, quando encarnado, segundo suas próprias palavras, ocupou-se com a prática do magnetismo material. Assim se expressa ele: “O Espiritismo não é, pois, senão o magnetismo espiritual, e o magnetismo não é outra coisa senão o Espiritismo humano. (...) O magnetismo é, pois, um grau inferior do Espiritismo (...)”.

2. E em relação ao passe propriamente dito, seriam ele e o magnetismo a mesma coisa?

R - A resposta continua negativa, pois, se para o magnetismo o passe é uma técnica de movimentação de mãos, para o passe (espírita) o magnetismo é uma fonte de técnicas de transferências fluídicas. Atentemos, todavia, para o que nos diz Allan Kardec: “O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável”56; isto nos sinaliza, inclusive, que nem sempre o passe se recorre do magnetismo como técnica.
Em síntese, todo passista (espírita) é, no fundo, um magnetizador mas nem todo magnetizador é um passista (espírita).

3. E a magnetização e o hipnotismo são iguais, são uma mesma ciência?

R - Trata-se de outro equívoco pensar-se assim. Embora não estejamos estudando o hipnotismo, é da própria história dessa ciência que ela surgiu em decorrência das práticas magnéticas, como uma experimentação, poderíamos dizer, especializada, de partes daquela. O hipnotismo, usando uma linguagem bem coloquial, é “filho” direto do magnetismo como o é o “sonambulismo provocado” “O próprio Braíd (chamado o pai do hipnotismo) reconheceu em sua Neurhypnologie que os procedimentos hipnóticos não determinavam absolutamente todos os fenômenos produzidos pelos magnetizadores”57, evidenciando, assim, o caráter de menor eficiência destes, em termos gerais, que daquele causa.

4. Já que o magnetismo é usado no passe, isso implicará que devamos usar também o hipnotismo nos nossos passes?

R - De forma alguma. O Espírito Emmanuel, introduzindo André Luiz no livro “Mecanismos da Mediunidade”, enfatiza que mesmo tendo aquele estudado o hipnotismo “Para fazer mais amplamente compreendidos os múltiplos fenômenos da conjugação de ondas mentais, além de com isso demonstrar que a força magnética é simples agente, sem ser a causa das ocorrências medianímicas, nascidas, invariavelmente, de espírito para Espírito”, não recomenda. “De modo algum, a prática do hipnotismo em nossos templos Espíritas”.
Completemos nossa resposta com Michaelus: “Deixemos as drogas e os tóxicos para os hipnotizadores e reservemos para os magnetizadores a medicina do Espírito, pois na alma se concentra toda a sua força e todo o seu poder”.

5. Mas, algumas pessoas advogam que durante ou após o passe, certos pacientes se sentem “diferentes”, como no hipnotismo.

R - Sem entrar nos aspectos espiríticos da questão, vejamos o que nos diz o renomado Dr. Jorge Andréa: “Não pretendemos negar que a hipnose determina, realmente, inibição de centros nervosos, zonas e mesmo regiões” mas, esclarece ele, “isso é uma conseqüência natural do desenvolvimento de mecanismo hipnótico”60. Não é correto, portanto, que apressadamente se infira dos fatos do hipnotismo, sua equivalência, por suas reações (diversas, por sinal), com os passes. Mero desconhecimento de causa que não justifica o equívoco. Hermínio Correia de Miranda, quando liga o magnetismo ao hipnotismo, nos esclarece com sua síntese peculiar: “Magnetismo, a nosso ver, é a técnica do desdobramento provocado por meio de passes e/ou toques, enquanto a hipnose ficaria adstrita aos métodos de sugestão (...)”.

6. É o passe uma invenção do Espiritismo?

R - Garantimos que, em princípio, o Espiritismo nunca “inventou” nada nem tampouco “criou” coisas usualmente a ele atribuídas. Pelas definições e menções apresentadas neste capitulo, fica evidente que o passe, suas técnicas e seu conhecimento remontam à mais longínqua antiguidade. A Doutrina Espírita apenas estudou o magnetismo e suas aplicações, estuda e continuará estudando suas causas e efeitos, tendo chegado a grandes conclusões, notadamente no que diz respeito ao seu uso para o bem dos Espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados, dando-lhes emprego sério e útil, e incentivando sua prática dentro dos princípios cristãos e nos limites da pureza doutrinaria espírita, lembrando aos seus praticantes, como o fez o Cristo: “(...) De graça recebestes, de graça dai”.

7. É o passe magia? Por quê?

R - Não. Porque o passe não se utiliza de fetichismos, não é dogmático, não compactua com Espíritos inferiores para obtenção de favores, quer materiais, quer espirituais, nem se compromete com ritualismos. Não incita adoração a santos ou mitos nem requer pagamentos ou oferendas. Se nos permitimos uma definição  própria, o passe é um dos veículos de que se utilizam os Bons Espíritos para atender aos necessitados, de acordo com a vontade de Deus, e não para atender aos homens, segundo nossos, quase sempre, pueris caprichos e mesquinhas imposições.

8. Como o passe, muitas vezes, usa das técnicas do magnetismo e das colocações kardequianas, entendemos que tanto há fluidificação espiritual como animal (do homem) e mista, isso quer dizer que no passe tanto há mediunismo quanto animismo?

R - Estabeleçamos primeiro que animismo não é, necessariamente, sinônimo de mistificação; animismo é a projeção ou a manifestação do Espírito do próprio médium por seu próprio corpo ou, ainda, o uso das energias fluídicas de si por si mesmo. Por outro lado, mediunidade existe quando há relação entre homem encarnado e Espírito desencarnado. Por isso podemos dizer, teoricamente, que o passe só é anímico quando o mesmo é aplicado por um magnetizador, com uso exclusivo de suas energias vitais, sem a interferência dos Espíritos (como se isso fosse possível). Mas, pelo que nos asseveram os Espíritos, quando respondendo a Kardec, nos asseguram que eles influem em nossos atos e pensamentos “Muito mais do que imaginais (...) a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem”, forçoso é concluirmos que não há magnetismo puro (quer  dizer, sem intervenção espiritual), assim como também não há o nimismo puro. A própria definição de passe vista anteriormente no item “2.1 - Dos Dicionários e Enciclopédias”, sob a referência número 27, já nos sugere isso. E, se não bastasse, sigamos Allan Kardec mais uma vez, quando ele pergunta aos Espíritos:
“Há, entretanto. bons magnetizadores que não crêem nos Espíritos?
“Pensas então que os Espíritos só atuam nos que crêem neles? Os que magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal e pelas más intenções chama os maus”.

9. Passistas e médiuns curadores são a mesma coisa?

R - Se bem possam, em determinadas situações, se confundirem, não são necessariamente a mesma coisa pois o passista nem sempre é um médium curador no sentido maior do termo, enquanto que todo curador, posto que sempre usa alguma técnica de passe, é passista, ressalvando-se, contudo, que aqui importa distinguir passista de passista Espírita.
Quando Allan Kardec definiu médiuns curadores, disse que esses são “Os que têm o poder de curar ou de aliviar o doente, pela só imposição das mãos, ou pela prece.
“Essa faculdade não é essencialmente mediúnica: possuem-na todos os verdadeiros crentes, sejam médiuns ou não. As mais das vezes, é apenas uma exaltação do poder magnético, fortalecido, se necessário, pelo concurso de bons Espíritos”.
Percebemos assim que, no primeiro parágrafo, ele parece se referir ao passista espírita, enquanto que no segundo se referencia ao magnetizador, ao médium curador. De uma forma ou de outra, não faz grande diferença essa conceituação pois o que mais importa é a ação do passe, e Espírita, de preferência.

10. Magnetismo e magnetoterapia são a mesma ciência?

R - Não, não o são. Enquanto que o magnetismo lida com os fluidos animais (humanos), a magnetoterapia se utiliza dos ímãs ou materiais inorgânicos portadores de magnetismo. Enquanto a primeira se baseia no homem como fonte, a segunda tem sua base nos metais; a primeira requer, mesmo no magnetismo puro, um bom posicionamento de moral e equilíbrio do aplicador, enquanto a segunda, nem sempre.

11. É o magnetismo humano (animal), o mesmo dos ímãs ou do resultante das correntes elétricas?

R - Não. No magnetismo humano se percebe e se constata a existência de um componente anímico que não participa das outras modalidades de magnetismo. Outrossim, no magnetismo dos ímãs e dos oriundos dos campos energizados por eletricidade, obtêm-se padrões e quantidades invariável e fisicamente mensuráveis, abstração feita as variações previstas e determinadas; no magnetismo humano os valores são extremamente flexíveis e variáveis não apenas por condições físico-químicas e orgânicas mas igualmente por influências psíquicas e espirituais.

12. Existe diferença entre passes e imposição de mãos?

R - Em termos espíritas, passes tanto pode ser entendido como o conjunto de recursos de transferências fluídicas levadas a efeito com fins fluidoterápicos, como uma das maneiras pela qual se faz tais transferências. No primeiro caso, a imposição de mãos seria um dos recursos; no segundo, uma das maneiras.
Assim sendo, de forma literal, passe e imposição de mãos não são a mesma coisa; em termos de uso, contudo, tem-se a imposição de mãos como uma técnica de passe66. Tanto que é comum se falar de um querendo-se dar a entender o outro.
De outra forma, observemos a ponderação de nossa contemporânea Dalva Silva Souza, em excelente artigo publicado em “Reformador”: “A palavra (passe) é um deverbal de passar, verbo que, sem dúvida, transmite a idéia de MOVIMENTO”67. Por outro lado, “imposição de mãos” já deixa bem induzido que se trata de atitude estática, sem movimento, posto que, derivado do verbo impor, imposição, nesse sentido, quer dizer: ato de fixar, estabelecer.

Outras dúvidas e equívocos, por certo, existirão. Mas, se não temos a pretensão de esgotar o assunto, nos resta a certeza de que ao longo desta obra, muitas questões serão resolvidas e vários problemas ganharão solução. Por outro lado, se novas dúvidas surgirem, como resultado da reflexão, do estudo, da análise e do raciocínio, é sinal de que teremos alcançado um bom “primeiro porto”, do qual, após o reabastecimento em novas pesquisas, partiremos buscando, juntos, novos e  promissores horizontes, tudo em nome do Evangelho.
Fonte:
O Passe: Seu estudo / Suas técnicas / Suas Práticas
Jacob Melo - Feb


"E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho
isto te dou. Em nome de Jesus-Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”.
(Atos, 3:6)

Casa Espiritual Amor e Luz

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