TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO PINGA-FOGO (Programa Televisivo que Chico participara esclarecendo temas relacionados a visão dos Espiritos em 27 e 28 de julho e posteriormente em 20 e 21 de dezembro de 1971 na TV Tupi, canal 4 em São Paulo).
REENCARNAÇÃO E PRINCÍPIOS BÍBLICOS
ALMYR GUIMARÃES> Chico, agora vamos a uma pergunta de um pastor evangélico que você deve conhecer, porque ele é conhecido em todo o Brasil, comanda um rebanho de fieis à sua religião de um milhão e quinhentas mil pessoas, aproximadamente. Trata-se do pastor Manoel de Mello. Ele próprio irá fazer a pergunta a você, que foi gravada pelo nosso VT.
MANOEL DE MELLO> Meu caro Xavier, meus cumprimentos.
Convidado por este programa e pela sua direção para lhe formular uma pergunta, quero fazê-la com muito agrado, com muita satisfação, por conhecer você através da literatura, da sua fama, e que ninguém de consciência tranqüila pode negar as suas qualidades mediúnicas. Você como uma das maiores autoridades espíritas ou espiritualistas deste país, para não dizer deste continente, por gentileza me responda esta pergunta, que está sendo formulada em meu nome pessoal e em nome de toda a minha organização, isto é, de um milhão e meio de fiéis que represento neste país e de cerca de quatro mil pregadores que tenho a honra de liderar.
O espiritismo, Xavier, tem um ponto que se choca profundamente, biologicamente falando, com os princípios bíblicos que defendemos nós, os evangélicos. É exatamente aquele ponto da reencarnação, isto é, cada pessoa que nasce é sempre reencarnação de uma pessoa que faleceu, de uma pessoa que morreu. Assim é apregoado e ensinado pelos espíritas no mundo inteiro.
Para esclarecimento dos telespectadores desta rede enorme de televisão, deste horário, em nosso Pinga-Fogo, esclareça o seguinte: Deus criou Adão e Eva, todos nós concordamos e creio que você também, à maneira como foi criado, e o mundo cristão inteiro. Mas logo após a criação de Adão e Eva, as duas primeiras criaturas humanas, surgiram as duas outras criaturas humanas – são os dois filhos de Adão e Eva: Abel e Caim.
Você poderia dentro da sistemática espiritualista, dentro da doutrina da reencarnação, você poderia dar, meu caro Xavier, uma explicação aceitável de onde vieram, qual a procedência de Caim e Abel, os dois primeiros filhos de Adão, isto é, pela ordem, a terceira e a quarta pessoas humanas existentes aqui na Terra? Responda-me e eu gostaria que os milhões de telespectadores que assistem agora a você, com tanta atenção devido à fama do seu nome às qualidades insofismáveis que você as tem, responda a procedência e como essas duas criaturas humanas vieram a Terra, Abel e Caim. É somente isso, e muito obrigado.
CHICO XAVIER> A pergunta do nosso caro amigo, que nos interpela a respeito do texto bíblico, está emoldurada de tamanho carinho, que inicialmente, nós agradecemos esse tom de fraternidade e ternura humana, com que ele emoldura a questão para se dirigir a nós. Muito obrigado ao nosso caro pastor evangélico Sr. Manoel de Mello, que nós todos admiramos como sendo o orientador desse grande e brilhante movimento que é “Cristo para o Brasil”.
Mas, sem desejar fazer contraperguntas, porque às vezes a contrapergunta não é uma prova de consideração para quem perguntou... mas a Bíblia é o nosso livro santo, livro de todos os cristãos. Nós, os espíritas evangélicos, nos detemos no Testamento novo para compreender a essência dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e daqueles que O sucederam, os apóstolos da causa evangélica. Não temos maior intimidade com o velho testamento.
Entretanto, pedimos permissão ao nosso caro pastor evangélico, Sr. Manoel de Mello para considerar que, no livro de Gênesis, no capitulo IV, versículos 16 e 17, vamos encontrar uma questão muito interessante para nossos estudos em conjunto, porque nós todos somos estudantes das letras sagradas. O capitulo IV trata, por exemplo, da união de Adão e Eva para o nascimento dos seus três filhos: Caim, Abel e Seth. Sabemos por esse texto, o capitulo quarto do livro de Gênesis de Moisés, que Caim extermino Abel. Entretanto, nos versículos 16 e 17 nós encontramos uma informação muito curiosa: a informação de que Caim, em se retirando a face de Deus, se dirigiu para uma cidade ou uma terra chamada Node, onde ele desposou aquela que foi sua esposa e teve com ela uma grande descendência.
Então, estamos perguntando se determinados textos do Antigo Testamento não seriam códigos, que nós precisamos estudar com mais segurança para não cairmos, por exemplo, em contradição do ponto de vista literal. Nós precisamos estudar com técnicos e pesquisadores de historia, que nós o temos hoje em todas as direções – digo isso com o Maximo de respeito -, porque se Caim matou Abel antes do nascimento de Seth, mas casou-se numa cidade chamada Node, onde encontrou a sua mulher, aquela que foi a sua esposa e com ela teve uma grande descendência, o assunto exige estudos especiais de nós todos, porque, segundo a criação no jardim edênico, a família inicial teria sido constituída pelas quatro pessoas, às quais se refere o nosso caro pastor evangélico S;r Manoel de Mello: Adão, Eva e os dois filhos primeiros do casal. Vamos estudar então a questão.
ALMYR GUIMARÃES> Mas o Manoel de Mello tem que estudar também, não é? Todos nós, então vamos chegar a uma conclusão...
CHICO XAVIER> Com respeito à reencarnação, nós, os espíritas, estamos diante de uma realidade inconteste para nós. Mormente na vida mediúnica, temos assistido nesses quase 45 anos de espiritismo evangélico, à luz dos princípios kardequianos, a desencarnações e reencarnações. Mas permitimo-nos também perguntar ao Sr. Manoel de Mello, ao nosso caro pastor evangélico, senhor da pergunta, e também àqueles que fazem objeções contra os princípios da reencarnação, permitimo-nos perguntar sobre o sofrimento das crianças, por exemplo. Não vamos nos referir aos adultos, porque seria alongar muito a resposta. Mas vamos pensar nas crianças.
Por exemplo, nós, os espíritas, muitas vezes encontramos determinados casos de suicídio e, às vezes, suicídios acompanhados de homicídios ou, às vezes, apenas de homicídio. Mas vamos encontrar nesses problemas do complexo de culpa levado para alem desta vida, e depois esse complexo de culpa renascido com aquele que é responsável por ele através de sofrimentos, que só podemos entender através da reencarnação.
Muitas vezes temos encontrado, por exemplo, irmãos nossos suicidas que disparam um tiro contra o coração e que voltam com a cardiopatia congênita ou com determinados fenômenos que a medicina classifica dentro da chamada tetralogia de fallot. Nós vimos companheiros que quiseram morrer voluntariamente pelo enforcamento e que voltam com a paraplegia infantil, comumente chamada de enfermidade de little. Nós vimos muitos daqueles que preferiram o venno e que voltam com má-fomrações congênitas, com problemas miopáticos, com o mixedema. Aqueles que às vezes violntam o próprio ventre e que voltam também sofrendo as tendências e que às vezes acabam se desencarnando com o chamado infarto mesentérico. Nós vemos, por exemplo, aqueles que preferiram morrer pelo afogamento para se retirarem da vida, num ato de rebeldia contra as leis de Deus. Temos, por exemplo, aqueles que preferiram o afogamento e que voltam com o chamado enfisema pulmonar. Aqueles que dispararam tiros no próprio crânio e que voltam com tantos fenômenos dolorosos, como por exemplo a idiotia, a acromegalia, quando o tiro, quando o projétil alcança a hipófise, porque nós estamos, em nosso corpo físico, subordinados ao nosso corpo espiritual. Então, principalmente os fenômenos decorrentes do suicídio por tiro no crânio são muitos dolorosos, porque vemos a surdez, a cegueira, a nudez congênita, e vemos esse sofrimento em crianças, incompatíveis com a misericórdia de Deus, porque nós sabemos que Deus não quer a dor. Diz Emmanuel: “Se Deus quisesse a dor, Ele não teria nos dado a anestesia através da medicina”. A dor é uma criação nossa, chegamos ao alem com determinado complexo de culpa e pedimos para voltar ao corpo, trazendo a consequências de nossos próprios atos menos felizes.
Então, pedimos ao Sr. Manoel de Mello, nosso caro pastor evangélico, que tem trabalhado tanto e cujo mérito nós todos reconhecemos e reverenciamos, para pensar conosco nesses problemas.
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