Eu meditava naqueles momentos, indagando-me sinceramente: será que eram adultos mesmo? Ou eram eles os pequeninos de Deus disfarçados em corpos sofridos, em seres de aparência triste, que apenas esperavam por nós, a fim de ampará-los e reconduzi-los aos abraços do Pai?
Somente quem conviveu com as crianças de Deus, com os desiludidos, mas também esperançosos, é que pode ter uma visão do alcance e do significado escondido nas palavras do Nosso Senhor Jesus Cristo: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”.
Fico hoje a imaginar, ainda, quanto tempos a aprender com as criancinhas. Quanto precisamos deixar brotar, renascer e crescer em nós a criança divina que dissimulamos ou soterramos ao longo da vida. Quanto a mim, como serva da humanidade, ainda hoje estou empenhada em descascar a crosta de seriedade e preocupação, de inquietações e tantas outras coisas que o tempo se incumbiu de sedimentar em mim, sufocando minha criança interior.
Creio firmemente que ser criança, viver como criança e deixar-se envolver com as crianças ainda é a melhor maneira de despertar a simplicidade no relacionamento com a vida, com o mundo e com Deus. Professores por excelência, as crianças ensinam brincando, ao passo que nós, que nos acreditamos maduros, pretendemos ensinar as crianças, estimulando-as a perder a simplicidade, incentivando-as a viver de maneira complicada, tentando incutir-lhes certo modo de ver o mundo em um padrão de vida mais serio, mas nem por isso melhor. Desejamos lhes ensinar deixando-as fora do abrigo doméstico, domesticando-as para viver fora do contexto familiar.
Por tudo isso e um pouco mais, ponho-me a pensar e me pergunto intimamente: Teresa, quem ensina quem? Quem está aprendendo com quem? E mais ainda: quem deseduca quem?
Vejo muitos adultos a contrair responsabilidades grandes demais perante as leis de Deus e da vida por causa de suas atitudes descuidadas e desrespeitosas, incentivando crianças a adotar os hábitos nocivos que cultivam. Depois se desculpam e se lamentam, dizendo que o mundo mudou e que a juventude não é mais como antes, que precisa amadurecer e aprender a viver no mundo moderno. Meu Deus, como mascaramos nossas imperfeições com nomes diferentes, com vocabulário empolado e discurso pretensioso! Aos que assim preferem, para usar termos do repertório politicamente correto – pratica inventada para abonar nossa habilidade de distorcer as situações -, temos agido com as crianças como se esperássemos delas respostas de um adulto, mas de um adulto que está deseducado para viver em família e em comunidade.
A despeito de tudo isso, ainda insisto que tenho crescido muito com as crianças. Eu, que me enquadro na categoria das pessoas ignorantes e que dependo muito do próximo para me aturar as indelicadezas e imperfeições, estou aprendendo com as crianças a viver com mais simplicidade, com mais espontaneidade, com mais alegria genuína e também como ser menos dura com a vida, com o outro, comigo mesma.
Talvez o que nos falte, nesse trato com o aprendizado na vida, de fato seja desenvolver em nós determinados atributos peculiares à criança, a fim de que estejamos mais abertos ao métodos e à metodologia o amor, presente em toda a criação. Provavelmente foi isso que levou Jesus a afirmar, em sua oração de agradecimento a Deus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. Imagino que nos quisesse dizer, num código somente decifrado pelo amor, que devemos fazer-nos pequeninos, desenvolver em nós as virtudes de uma criança – a simplicidade, a abertura mental e emocional, isto é, a sensibilidade infantil, a sabedoria verdadeira, e não apenas a inteligência.
Aprender das crianças e vê-las como professores pressupõe ir muito alem da forma infantil: é enxergar em suas atitudes, bem como em sua resposta aos estímulos do mundo, um roteiro para desenvolver em nós os atributos que nos farão mais receptivos à escola da vida e sensíveis aos apelos do infinito.
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